Por Augusto Schmidt
Augusto Diniz de Ulhoa Cintra Schmidt, voluntário da BH em Ciclo e do Bike Anjo BH
Introdução
Historicamente Belo Horizonte nunca foi considerada uma cidade muito favorável à utilização da bicicleta como meio de transporte, principalmente em função do relevo muito acidentado. Porém, milhares de pessoas usam a bicicleta para seus deslocamentos diários em Belo Horizonte (são os chamados ciclistas invisíveis), mas recentemente uma série de iniciativas têm incrementado significativamente o cenário da bicicleta na cidade. O objetivo deste artigo é desmistificar a “certeza” de que BH não é feita para a bicicleta por causa dos seus morros e mostrar as iniciativas que estão transformando BH em uma “cidade que pedala”.
Desmistificando os morros
A maioria dos ciclistas urbanos de Belo Horizonte dirá que é uma simples questão de costume: em cerca de um mês é possível se acostumar com os constantes “sobes e desces” da cidade. Tudo isso se torna mais fácil com a tecnologia das marchas – hoje a maioria das bicicletas vendidas conta com pelo menos 21 marchas, ajudando em muito nas subidas.
Além disso, vale ressaltar que grande parte das principais avenidas de BH (Andradas, Pedro II, Silva Lobo, Barão Homem de Melo, Silviano Brandão, etc) são praticamente planas (estão em fundos de vale), possibilitando a ligação das regiões da cidade sem grandes aclives. Há ainda a possibilidade da intermodalidade: com uma bicicleta dobrável ou utilizando as bicicletas compartilhadas é possível fazer parte do trajeto de bicicleta e o restante de transporte público. Além disso, os modelos de bicicletas elétricas tendem a ficar mais populares à medida em que os preços caem. Se tudo isso ainda não der certo, basta descer e empurrar.
A evolução do cenário da bicicleta em Belo Horizonte
Até 2009, BH possuía apenas cerca de 23,8 km de ciclovias. A partir de 2011, foi colocado em prática o projeto Pedala BH (criado em 2006), focado na implantação de ciclovias, e hoje já são 70,4 km. Apesar de ainda poucas e com qualidade questionável, são um sinal de que a bicicleta como meio de transporte começa a ser reconhecida pelo poder público. Desde junho de 2014, a cidade também conta com um sistema de bicicletas compartilhadas, que vem incrementando o uso da bicicleta na cidade.
Apesar de ainda existirem poucas pesquisas a respeito do aumento do uso da bicicleta em Belo Horizonte, alguns números já começam a representá-lo. A pesquisa Origem-Destino, realizada em 2012, mostra um representativo aumento no número de viagens de bicicleta realizadas por dia em BH, de 7.661 em 1995 para 24.525 em 2002 e 26.217 em 2012. Uma reportagem do Estado de Minas mostra números também significativos: em comparação com 2011, ano em que a ciclovia da Savassi foi implantada, em 2014 a circulação de ciclistas por lá aumentou 146%, de 6,5 ciclistas por hora, em média, para 16 por hora.
Desde 2012, a cidade conta com uma Associação de Ciclistas Urbanos, a BH em Ciclo, que vem atuando por melhores políticas públicas na área da mobilidade por bicicletas. Já houve grandes conquistas, como a aprovação da emenda orçamentária ao Plano Plurianal de Ação Governamental (PPAG), que garantiu R$800.000,00 em recursos para campanhas educativas relacionadas à bicicleta entre 2015 e 2017, algo inédito na cidade. Desde 2012 também, a cidade conta com forte atuação da rede internacional Bike Anjo, cujos voluntários se empenham em ensinar pessoas a pedalar e ajudar aqueles que já sabem pedalar, mas querem começar a usar a bicicleta como meio de transporte.
Desde há muito tempo, existem diversos grupos de pedalada noturna, que fazem passeios pelo cidade, como o RUTs (Rolê Urbano das Terças). Apesar do caráter marcadamente de lazer, são extremamente importantes, pois muitas vezes são o primeiro contato das pessoas com a bicicleta na cidade, e algumas experimentam adotá-la como meio de transporte em seguida. Da sociedade civil vêm surgindo inúmeras iniciativas, como o Tweed Ride BH e o Pedal de Salto Alto (pedaladas “Cycle Chic”), o Clube BH Vintage, o Clube Dobrável, o Bike Polo BH, o Gatos do Asfalto (competições de Alleycat), o Velódromo da Raul Soares (velódromo improvisado de rua), o Bloco da Bicicletinha (bloco de carnaval que celebra a bicicleta), o Ciclo Bazar de Rua, o Pedal dos Rôia (pedalada para iniciantes realizada pelo Bike Anjo BH), o Pedal do Chaves (pedalada para crianças realizada pelo Bike Anjo BH), o Dizzy Express (entregas por bicicleta), a Massa Crítica, o Atelier Bicicine (cicloficina popular), entre outros.
Em Janeiro de 2014, a Massa Crítica reuniu cerca de 500 participantes, um marco na história do movimento na cidade. Este momento está bem ilustrado na Figura 1.

Conclusão
Apesar de ainda de forma tímida, Belo Horizonte tem mostrado avanços no que tange as políticas públicas de incentivo à bicicleta como modo de transporte. A sociedade civil tem se organizado e dado um verdadeiro “show” de iniciativas que celebram esse modal. Em resumo, o cenário em geral é promissor e tem mostrado que, sim, é possível pedalar em Belo Horizonte.